Escola de Samba para Historiadores
Assistir as escolas de samba falarem sobre algum passado luminoso, cheio de história, é uma maravilha! Também uma afronta intelectual àqueles que passam metade do tempo em cima de livros (e xerox), tentando compreender o processo de formação do Estados, desesperado com a prova de metodologia (tomara que só caia: o que é positivismo), enfim, enquanto isso, a história na boca dos puxadores do carnaval e nas cores daqueles indiozinhos (eternos homenageados) parece bastante fácil e óbvia.
Assim, convoco os historiadores (cerca de 2500 seria um bom número), com samba no pé, facilidade de construir maquetes de isopor de 40 metros, e que não tenham timidez de desfilar na passarela do samba, formemos uma escola para o carnaval do próximo ano;
“Historiadores, uni-vos”, diria Marx, com aquela carinha de Bakunin.
Sugestão de nome para a Escola:
- Imperatriz de Marc Bloch
- Unidos de Michelet
- Mocidade de maio de 68
Comissão de frente: será um vazio para representar a falta de conceitualização da inquisição na América.
Carro abre-alas: Homenagem a Rabelais – o carro terá no centro um grande Rabelais feito de espuma. Nas laterais, Gangantua e Pantagruel representados por atores, talvez ex-big-brothers, e atrás, uma estátua de Lucien Febvre em posição superior a Rabelais. Aliás, Rabelais estará ajoelhado no milho.
Ala das baianas: colocar livre-docentes girando, girando.
Velha guarda: ala será formada pelos livre-docentes com labirintite, assim, não precisam girar.
2º carro: será uma homenagem ao carnaval, o carro se chamará: “Não, samba-enredo não é aula de história não!”
Bateria: composta pelos mais ritmados, com chapéus em forma de livros em branco, cuja temática será: não li Bakhtin, mas cito mesmo assim!
3º carro: terá Tiradentes e sua corda. Sem motivo especial, mas aparentemente carnaval sem homenagear Tiradentes não é carnaval.
4º carro: problematização da identidade indígena no Brasil. Talvez assim compreendam que essa identidade foi criada pelo IHGB para a construção do Estado-Nação Brasil. Mas na verdade a maior identidade da galera por estas terras é a portuguesa.
Último carro: paraíso das ninfas e o Olimpo. Carro dedicado àqueles que estão desesperados com a entrega da tese. Não temam, no fim de tudo há um lugar para vocês neste paraíso.
Após o último carro haverá a bibliografia.
Ps: Os estagiários empurrarão os carros.
Quanto ao dinheiro necessário para nossa escola de samba, acredito que podemos pedir financiamento com a CNPQ ou FAPESP. A gente promete devolver as fantasias para a reserva técnica.
Li no divertido Quadrinhos de História (confira lá!)